Senna - uma série que vai Muito Além da Netflix

Ayrton Senna é o assunto do momento. E não é para menos, faz poucos dias que estreou a esperada série sobre o piloto na Netflix e, após mais de 30 anos de sua morte, todo o interesse por sua vida, carreira e vitórias, foi reacendido.

Não é novidade para ninguém que sou um grande admirador de Senna e um tanto quanto nostálgico quando se trata de suas corridas, vitórias e embates, tanto que, em maio deste ano, em conjunto com o VGDB, publicamos o livro "Ayrton Senna nos Videogames", uma obra atemporal sobre os jogos de videogames estrelados pelo saudoso piloto brasileiro, homenageando sua carreira, conquistas e, claro, impacto na vida de milhões de brasileiros. Tive a ideia de publicar tal material ainda em 20203 quando planejávamos o calendário de revistas par ao ano de 2024 e ela foi concebida como uma revista especial com lançamento previsto para o mês de maio, como forma de homenagear o piloto dentre tantas homenagens que ocorreriam pelo Brasil e pelo mundo. Tornou proporção de livro quando o VGDB entrou no projeto e, com a ajuda de Edson Godoy e sua equipe, expandimos o conteúdo. Imprimimos 340 exemplares e distribuímos o PDF gratuitamente para a comunidade. Agora, uma nova versão de luxo, expandida, com mais jogos, mais páginas e capa dura está para ser lançada pela Editora Europa e já pode ser adquirida em pré-venda no site da mesma com preço promocional e frete grátis. Será incrível!

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Mas voltando à série da Netflix, obviamente, assim que possível, assisti os seis episódios ao lado de minha esposa, com bastante empolgação e emoção. Além disso, foi inevitável fugir das críticas, comentários e reações  série, ao piloto, sua carreira e sua vida pessoal, alguns coerentes, outros infundados e, infelizmente, a grande maioria recheados de provocação, falta de conhecimento do tema, maldade e desejo de aparecer.

Gostei muito da série, muito mesmo, especialmente no quesito técnico. Os efeitos especiais são perfeitos, a ambientação ficou incrível, retratando com eficiência os anos 60, 70, 80 e 90. Figurino, pistas, objetos, cortes de cabelo, enfim, foi uma verdadeira viagem no tempo. Emocionante mesmo! A atuação de Gabriel Leone como Senna foi fantástica. Seu trabalho, aliado ao dos maquiadores, fez com que víssemos o próprio Ayrton na tela, inclusive nos trejeitos, modo de falar, olhar, concentração e atitude. Aqui a Netflix conseguiu trazer nosso grande campeão de volta por algumas horas. Fenomenal! Outros personagens ficaram bastante parecidos e conviventes, como Prost e Galvão Bueno com suas narrações exageradas, emocionantes e marcantes. Já os demais foram razoáveis ou fracos, trazendo aquele clima de "novela" que, particularmente, não gosto tanto. Mas nada comprometedor, dá para assistir e aproveitar tranquilamente.

As corridas são um show a parte, fantásticas em todos os aspectos. Os carros estão lá nos mínimos detalhes, as tomadas, ultrapassagens, sensação de velocidade, o sentimento do piloto e a emoção e perigo das corridas, todos muito bem retratados, como os melhores filmes de Hollywood ou os mais incríveis animes japoneses (procurem por Kapeta que vão entender...). Difícil não se empolgar com as corridas nas chuva e as vitórias sofridas. Ponto alto da produção!

Para mim, o terceiro episódio foi o melhor de todos e sua conclusão foi como reviver um tempo mágico que não volta mais, um retorno à infância, a reunião de família no domingo, a macarronada ou o frango assado a mesa, as crianças brincando, os pais, tios e avós torcendo, gritando e chorando e toda a alegria e emoção do tema da vitória e da bandeira brasileira levantada por Ayrton Senna. Na época não percebíamos, mas era uma união nacional, independente que qualquer outra coisa, os brasileiros paravam para assistir as transmissões da F!, torcer por Ayrton e comemorar suas vitórias. Ao fim do episódio, fui às lágrimas, como um garotinho assistindo a transmissão na terrível imagem da Globo numa TV com antena ruim e chiados. Era mais do que Senna, era família, infância, emoção... difícil explicar. A série nos permitiu reviver um pouco disso como se fosse a primeira vez.

De negativo fica o imenso destaque para Xuxa, um episódio que poderia ter tratado outras coisas, a lentidão de algumas cenas ou diálogos (que pelo que percebi, foram propositais, para dar um ar "reflexivo" à série), algumas mudanças de personagens ou acontecimentos, a inclusão da repórter inglesa inexistente na vida real (não acrescentou em nada, pelo contrário, tomou tempo de coisas mais importantes) e, especialmente, o último episódio, muito corrido e sem muitos detalhes sobre o acidente, a morte, enterro, comoção nacional e despedida do grande campeão. confesso que aqui esperava MUITO mais.

Contudo, sabemos que não dava para retratar toda a vida e carreira de Senna e as limitações impostas pela família de Senna (que supervisionou toda a produção) impediram outras coisas de serem retratadas com mais destaque. Polêmicas são comuns, bem como opiniões diversas e gostos pessoais. Mas no fim, valeu a pena, sendo uma das séries mais assistidas no mundo, trazendo o interesse por Senna de volta ao topo (assunto mais procurado e comentado em todas as redes sociais) e dado a oportunidade de procurarmos livros, documentários e vídeos mais detalhados sobre Ayrton, além, é claro, dos jogos antigos e atuais que trazem Senna e seus carros. Eu mesmo, já assisti ao resumo de seus campeonatos de 1988 até 1993 e joguei o clássico game de Super Nintendo. Legal demais!

Meu maior lamento é que nosso livro não foi lançado pela Editora Europa a tempo, com certeza seria um dos mais vendidos na CCXP (maior evento Geek do Brasil que ocorre no momento em que escrevo este texto e que a editora participa) e, mais uma vez, perdemos a chance... Mas tudo bem, Senna é atemporal e o interesse por ele continuará. 

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Concluo com a convicção de que não houve piloto como nosso campeão. Ele era obstinado, teimoso, perseverante, insistente, corajoso e extremamente talentoso. Foi uma inspiração para mim em minha infância e, mesmo pós sua morte, em minha adolescência, juventude e, até hoje, na idade adulta. Com minha família, me emociono ao lembrar daquele tempo, lamentamos sua morte precoce, não nos conformamos com o fato de ninguém ter sido condenado pelo ocorrido, mas celebramos sua vitória, seu amor pelo Brasil e o orgulho que nos dava ao levantar a bandeira em cada vitória. Foram dez anos de Fórmula 1 que marcaram a vida de todos os brasileiros, por meio de um atleta como poucos no mundo.

Agradeço a Deus por ter vivido esta época e poder lembrar de tudo com minha esposa, bem como conversar com nossos filhos e escrever sobre. Senna vai Muito Além dos Videogames, da nostalgia, da F1 ou da Netflix.

Valeu Ayrton Senna do Brasil!

Linda foto do amigo Pedrux do Clube 16-Bit


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