O Jogo Portal e Os Desafios com A Inteligência Artificial
Olá queridos amigos leitores do blog! Vamos
falar um pouco sobre I.A.? Inteligência Artificial é um assunto que não é tão
novo assim, mas que já vinha rondando as nossas vidas há um certo tempo até o
dia em que, sem percebermos, se tornou parte dela e está em todo lugar. Eu me
lembro de no final do ano passado (2023) ouvir muito a expressão “a I.A. é um
caminho sem volta”. E dessa expressão surgiu até uma certa “pressão”, se é que
podemos dizer assim, de adequação à “nova tecnologia”, porque se nós não nos adequássemos
ficaríamos para trás, seja no trabalho ou em qualquer área da vida.
O lançamento do ChatGPT no final de 2022 pela
empresa Open AI foi o pontapé que popularizou esta tecnologia em massa, apesar
da massa já usar a tecnologia, talvez até mesmo sem perceber. Com a famigerada
ferramenta de chatbot outros vieram na crista da onda para criação e edição de
imagens e áudios, e várias outras funcionalidades. Na ocasião em que eu me
deparei com o slogan do caminho sem volta eu me lembro até de ter compartilhado
um post irônico no Instagram dizendo que, já que estamos nesse caminho sem
volta onde máquinas e sistemas autônomos farão tudo por nós (lembre-se que eu
estava sendo irônico) poderíamos aproveitar e tirar os olhos das máquinas
(diga-se na verdade “das telas”) e colocar mais os nossos olhos nas pessoas,
investindo mais esforços em tempo de qualidade nos relacionamentos e nas
conversas olho-no-olho, já que “o brilho das telas” dos smartphones tiraram
muito isso de nós (e usando de I.A. também...). Acho que vocês já perceberam o
meu tom crítico neste artigo né? Bem, é melhor eu me explicar logo antes que eu
seja mal interpretado (rsrs).
Eu sempre fui amante e entusiasta de
tecnologia, mas por outro lado também sempre fui um pouco cético e crítico ao
fascínio humano pela tecnologia, que eu aprendi em tempos recentes ser na
verdade um problema do coração do homem. Explico sobre isso mais à frente...
Mas antes que me chamem de retrógrado, ultrapassado, ou algo do tipo,
permita-me abrir um parênteses para me apresentar um pouco melhor: sou formado
em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e pós-graduado em Ciência de Dados. Estou
retornando agora à carreira de Desenvolvimento e possivelmente ingressando na
de Análise e Ciência de Dados também. E também tenho usado chatbots de I.A.
frequentemente para produtividade e utilidades do dia a dia. Fecha
parênteses... Mas para minha defesa, eu sei que não sou o único que é amante e
crítico da tecnologia ao mesmo tempo (Jaron Lanier, por exemplo, que é
extremamente mais conhecido do que eu, é um cientista da computação que foi
pioneiro nas pesquisas com realidade virtual nos anos 80, além de ser um músico
que se declarava frequentador assíduo de fóruns, mas que criticava a forma como
as coisas estavam sendo conduzidas e centralizadas na web 2.0 com o surgimento
das mídias e plataformas sociais).
Vamos
conversar sobre I.A.?
Se formos explicar o que é a I.A. (talvez para
algum leigo ou novato – se é que existe algum ainda nessa altura do
campeonato...), eu sei que não sou a pessoa mais capacitada para assumir essa
tarefa, mas podemos ajudar com uma definição bem simplista. Para começar, a I.A.
é um tipo de tecnologia generalista, ou seja: não é uma ferramenta direcionada
par resolver uma coisa específica ou um tipo de coisa específica, mas sim uma
tecnologia que pode ter inúmeras aplicações. É uma espécie de programação que
faz uso de estatística para fazer análises profundas em enormes volumes de
dados de forma muito rápida (que exige grande poder computacional) e que a
partir daí traz algo que a distingue das demais tecnologias: a automação com o chamado
“aprendizado de máquina”, onde os algoritmos tem a capacidade lógica de ajustar
por si só inúmeros parâmetros em camadas profundas de “aprendizado” (redes
neurais) de acordo com dados de treinamento e também com dados que ela vai
analisando ao longo do tempo (perdoe-me algum tecnólogo mais experiente se
misturei algum termo, mas acho que é por aí...). Daí que dizemos que as
máquinas “aprendem” e que os sistemas são “inteligentes”. E é claro, com esse
“aprendizado” aliado à grande capacidade computacional cada vez mais crescente,
os algoritmos podem simular ações humanas com os resultados obtidos dessas
análises. E como o processamento e a velocidade dos computadores, a grosso
modo, têm ficado cada vez mais potentes que o processamento do nosso cérebro,
temos aí uma grande concorrente (rs) - ou talvez uma potente assistente, que inclusive
é a proposta mais comumente difundida.
A partir daí temos então aplicações de I.A.
fascinantes e também muito úteis (rs) como na medicina com diagnóstico preciso
e precoce de doenças e descoberta de curas ou melhoria de prognósticos, no
mercado financeiro para análises de riscos e de perfis de investimento, na
agricultura com automação inteligente de tarefas e cuidado com plantas, na
segurança pública com análise de videomonitoramento e sensores diversos, na
indústria em geral com a análise ultra-rápida da qualidade de matéria-prima, no
processamento de linguagem natural com tradução instantânea de idiomas e
análise de textos, no processamento de dados climáticos e prevenção de
catástrofes, na classificação de riscos e análise de desempenho de máquinas e
robôs em setores diversos da indústria... e se formos ficar aqui citando todas
as boas aplicações de I.A. que têm surgido precisaremos escrever um livro e não
um artigo. Um destaque se dá também para os chamados “sistemas de
recomendação”, muito usados em redes sociais, streamings de vídeos e plataformas
de ecommerce, que sugerem conteúdo de acordo com vários parâmetros de uso e navegação
do usuário, o que pode ser muito útil, mas que também pode ser muito chato e
também enviesador e viciante (rs).
Há uns anos atrás, quando já se falava em
“Quarta Revolução Industrial” a preocupação de muitas pessoas era a de que a I.A.
(um assunto até então ainda meio nebuloso para a população em geral) iria
acabar com muitos empregos. Depois do boom do ChatGPT e as outras I.As que
vieram na onda ouvimos muito que quem não se adequasse realmente iria ficar
para trás. Há ainda muitos que se preocupam que a autonomia da I.A. poderá se
tornar perigosa se não for supervisionada e cair nas mãos de governantes
tiranos (o que pode ser uma realidade mesmo). O que vemos aqui então é que nem
tudo são flores e existem também desafios éticos e de cunho pessoal em relação
à I.A. para lidarmos.
Portal
é um jogo de Puzzle em primeira pessoa onde a protagonista é guiada através de
desafios crescentes pela voz de uma misteriosa I.A.
“Mas Júnior Malacarne, você não vai falar sobre
jogos hoje?” Claro que vou! Um jogo que me fez pensar nesse tema de Desafios com
a Inteligência Artificial é o famoso “Portal” da Valve, sucesso de vendas e
crítica. Justamente por ele ter um enredo enigmático onde a protagonista do
jogo (chamada de “Chell”) se encontra misteriosamente em um laboratório de
testes onde uma I.A. (chamada de “GLaDOS”) vai guiando a personagem por vários
desafios e puzzles espaciais onde é testada uma arma que tem o poder de abrir
portais de passagem nas paredes (onde você pode passar por um portal e sair por
outro, onde quer que esses portais tenham sido abertos pelo “tiro” dessa arma, transpondo
ambientes e transportando objetos, e só assim podendo resolver os desafios
propostos). O jogo é sensacional! Trata-se de um puzzle com câmera em primeira
pessoa onde você precisa quebrar a cabeça mesmo para resolver os problemas. A
trajetória do jogo é formidável para a nossa reflexão: os desafios do jogo a
princípio (e por um bom tempo) são desafios técnicos, digamos assim, com a
resolução dos puzzles que vão ficando mais complexos com o passar do tempo. Mas
depois de certo tempo, mistérios nada amigáveis vão sendo descobertos no
decorrer da trama do jogo e os desafios passam a ter uma amplitude maior do que
a pura técnica, e a mostrar também problemas morais.
Portal nos mostra que os desafios da I.A. não
são apenas técnicos, mas também éticos, morais e existenciais. Portal mostra
que os desafios da tecnologia transcendem os âmbitos da tecnologia. Por
exemplo, antes mesmo da I.A. acabar com os nossos empregos (estou exagerando, é
bom explicar) tenho visto casos de pessoas acabarem ou esfriarem seus
relacionamentos, preferindo essencialmente se relacionarem ou interagirem amigavelmente
com chatbots do que com pessoas reais, ou o que é pior: com avatares digitais
de Deep Fake que “aprendem” a se relacionar ou interagir com o usuário de
acordo com o gosto dele, como se esse avatar fosse um ídolo que “tem olhos mas
não vê, tem boca mas não fala” (ref. Salmo 115) porque fala só o que o usuário
quer ouvir. Isso para não falar o desafio de manter a integridade e zelar pela
verdade em tempos de Deep Fake, onde avatares realistas podem se passar por
pessoas reais para engano de outras pessoas reais. Tenho visto também a antiga
galera do Ctrl+C/Ctrl+V minarem ainda mais sua criatividade e autenticidade com
as sugestões dos chatbots ou designers de I.A., ao invés de usá-los como
suporte, inspiração e até mesmo como desafio para criar algo por si mesmos.
O mais bizarro de tudo são as iniciativas com
Inteligência Artificial que apoiam o Pós-Humanismo (onde com o uso da
tecnologia genética o ser humano superaria as suas naturais limitações biológicas
incluindo a própria morte e assumindo um corpo sobre-humano) e o Transumanismo
(onde a superação de suas limitações incluindo a morte seriam fora do corpo,
através de um backup da sua consciência e onde então através da Inteligência
Artificial a sua consciência poderia perdurar eternamente “incorporada” em um avatar
digital, mesmo após a sua morte física).
Portal
nos mostra que os desafios da I.A. e da tecnologia em geral não são apenas
técnicos, mas também éticos, morais, existenciais e espirituais.
É meus amigos, assim como o jogo Portal tem
muitos desafios propostos por uma Inteligência Artificial com dificuldade
crescente e que vão passando do âmbito técnico para um âmbito mais moral e
existencial, assim também é a nossa vida nos dias em que temos vivido, na nossa
relação com as tecnologias de I.A..
Mas o maior desafio que o homem tem que lidar
mesmo é espiritual. E isso é em relação a todas as tecnologias e não somente a I.A..
Acontece que a I.A. parece elevar o nível de possibilidades de forma exponencial
em relação a tudo o que já vimos até hoje. Com isso cresce também o fascínio
humano pela tecnologia, enraizado no desejo de satisfazer os seus anseios mais
profundos de controle, auto realização, autonomia e percepção de sentido. E é claro, o desejo
incontido de superar as barreiras da vida, das quais a maior seria a morte. Mas
o ser humano precisa entender que “Deus colocou a eternidade no coração do
homem” (Eclesiastes 3:11). O seu anseio infinito nunca será satisfeito pelas
coisas finitas. A sede do coração humano nunca será saciada pelas coisas desse mundo.
A “eternidade no coração do homem”, só encontra satisfação real e verdadeira no
Deus eterno. A vida do homem só se completa naquele que é a Vida, e a Vida
Eterna: Jesus Cristo.
· Para se
aprofundar nas reflexões espirituais sobre a Tecnologia, indico a leitura do
livro “Deus, Tecnologia e a Vida Cristã” de Tony Reinke, lançado pela Editora
Fiel.
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