O ano era 2000, e os caras fizeram um (bom!) beat 'em up da Mulan - Mas esqueceram de avisar a Disney! (Legend of Heroes)

Autoria: Sammis Reachers

Edição: Júnior Malacarne

Imagens e post original: blog Azul Caudal


Primeiro, pera lá: Este post tem outro título, bem mais sério e respeitável: Legend of Heroes - Combata hunos na China antiga neste beat 'em up... coreano. Mas logo você vai entender a escolha do título acima.


Dia desses publiquei uma resenha ou artigo intitulado Viajando pela história e pelas culturas através dos beat em ups. Um dos games resenhados, Warriors of Fate, discorre sobre certo período da história mítica chinesa.


Hoje aproveito, nesta resenha especial, meio que continuação/spin off da anterior, para falar sobre outro game que narra parte da história chinesa. Trata-se de Legend of Heroes. Jogo desenvolvido pela Sonnori e publicado pela Limenko, empresas coreanas, lançado para arcades no ano 2000.




Num período em que a China se dividia em Dinastias do Norte e do Sul, num momento em que o país enfrentava invasões sucessivas de hunos. Tendo rechaçado a primeira investida huna, uma segunda carga tombou sobre a China, e a princesa Falan se levanta para impedir que os "bárbaros" (re)conquistem seu país.


Um detalhe do jogo que talvez você hoje não perceberia se não te contassem, querido amigo retrô: a imensa, cabal, catastrófica semelhança dos personagens e cenários com os do desenho Mulan, da Disney, lançado em 1998. Imensa demais, e sem pedir licença, copiança feita na cara dura mesmo. Bem, a Disney não chiou até hoje, você vai chiar?


E se você acha pouco, então tome: até uma de minhas personagens favoritas de Fatal Fury/The King of Fighters, a Mai Shiranui, aparece, devidamente copiada, com a mesma e já corriqueira cara de pau. Doideira total!


Mas o papo aqui é andar e bater, senhores. Vamos ao que nos interessa: o game apresenta quatro personagens jogáveis, e é possível jogar com os quatro em tela ao mesmo tempo: Falan, a tal princesa guerreira, Liang, o cavaleiro (o personagem balanceado), o pequenino Jili (alguém precisa fazer o papel de troll) e o grandalhão Cheng. Como os muitos beat em ups surgidos a partir de meados da década de 90 (considere um 1994 em diante), Legend os Heroes permite que se apliquem combos contados (hoje isso já virou bagunça, mas não entremos no mérito). O jogo chega a sinalizar quando você aplica um combo que supera o recorde de golpes ou hits de seu combo anterior. 


Os golpes são diversos, com alguma variação de personagem para personagem. Movimentos tradicionais como a corridinha estão presentes. Temos rasteira deslizante (baixo + pulo, muito útil para atingir inimigos caídos ou concatenar mais golpes em seu combo). E com este deslizante, logo o pior personagem (o baixote Jili) consegue, talvez como compensação, aplicar combos "infinitos": Você rola para cá e para lá sobre os adversários caídos, amaciando suas carnes. O brutinho tem até rolamento aéreo (pulo + direcional para baixo + soco). Parece o Blanka! Uma (quase) ausência notável são os agarramentos, não muito fáceis ou automáticos de se realizar, salvo com o personagem fortão, que por sinal possui o golpe que a meu humilde ver consagra um beat em up: o pilão (pular ao chão com o adversário preso, invertido, entre as pernas). Ele possui dois agarrões: soco 2X + toque para a frente 2x = agarrão levantando e socando o adversário no chão; soco 2X + toque para baixo 2x, pilão. Já os demais personagens agarram fazendo um C ao contrário + soco. Outra ausência é o que eu tenho chamado de especial corporal (aquele feito pressionando soco + pulo, e que faz o personagem girar os braços ou algo assim). 


Apesar de tudo isso, na movimentação do game você acaba não sentindo falta de tais movimentos, que são supridos talvez pela mecânica de armas que se apanham na tela, das quais falaremos logo.


Um destaque do jogo são certamente as telas, que enfocam ao fundo lindas paisagens asiáticas - algumas são verdadeiras pinturas.




O game possui um mecanismo esquisito de avanços e retrocessos entre telas a cada fase. Um mapa indica para qual tela você deve rumar - ou retornar - para dar cumprimento à história do game. Como não podia deixar de ser, a cada final de fase você enfrenta um chefão, combate sempre precedido por diálogos, bravatas e até palavrões (alô, Disney!!! Alô, Mickey!! Alô, miseráveis!!!) entre você e o bruto/a da vez.

Durante seu avanço, você irá se deparar com armadilhas e percalços pelo cenário, como chuvas de flechas, "minas" explosivas, moitas de espinho e até avalanches de bolas de neve. E entre uma bordoada e outra trocada com hunos, você ainda enfrenta águias e até búfalos adestrados pelos caras. Nunca foi fácil pra ninguém.

As armas de mão do game são outro caso à parte. Você pode acumular sem limites armas como flechas, kunais, bombas de mão, lança-rojões (cabeças-de-dragão) e ainda pergaminhos de magia. Você seleciona o que deseja utilizar num botão específico, e é mostrado o quanto você possui de cada item. Dá pra acumular 100, 150 kunais, por exemplo! Os pergaminhos permitem desde invocação de um deus do gelo que libera uma linda sequência de raios nos calhordas, até um que confere maior força e velocidade ao seu personagem, facilitando a atividade de moer mongóis (ops, perdão: moer hunos).


Mas o melhor, ao menos para mim, de todo o jogo (não apenas o melhor pergaminho, mas o melhor detalhe), é o pergaminho que lhe permite invocar um pequeno dragão vermelho, ilustrado em estilo cartoon, feito desenho animado do Nickelodeon. É a xerox do personagem Mushu, de Mulan. O dragãozinho, em pé sobre duas patas, fica simplesmente cuspindo fogo nos adversários. Com toda vontade. Ele bate e apanha como você. Junto com você. Tomba e se levanta, e continua a lutar sem cessar, um soldado e sua missão. Eventualmente morre feito você. Você acaba sentindo uma irmandade com o miserável do dragão antropomorfizado, uma simpatia (o camaradinha enfezado é muito carismático). Em algumas fases a tela realmente se enche de inimigos, e ele está ali, apanhando junto contigo, lutando, ombreando, fazendo frente. Quando você cresce e vê que os fliperamas ficaram na memória, os irmãos se foram em seu caminho, os filhos ou esposa não chegam juntos na jogatina e o que lhe resta mesmo é jogar SOZINHO, ah, você entende que todo beat tinha que ter um auxiliar desses!




O game é bem interessante, a distribuição de pancadas é inesperadamente agradável, e ele apresenta os já citados elementos pouco usuais ou mesmo inusitados para um beat em up, o que de alguma maneira acabam enriquecendo a experiência. Possui seus senãos, como a quase inevitável (até hoje, ao menos) repetitividade de adversários. E, na verdade, os próprios elementos díspares que o game possui, podem fazer o nariz de alguns jogadores conservadores se torcer.

De toda forma, o jogo é divertido tanto para aquele que desconhece a história de Mulan e da descarada cópia feita, quanto para aquele que conhece a trama do desenho e a tramóia cara-de-pau da Sonnori.

Que situação, hein? A Disney que lute! Com um sorriso cínico, Capitão, aquele chefe pinguim de Madagáscar (e da concorrente da Disney, a DreamWorks), nos diria "sorriam e acenem, rapazes. Sorriam e acenem". 

Bem, eu digo apenas andem e batam. 

É o que importa. 

O resto é história.



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