Nossa Banquinha de “3 por 10”

Autoria, edição e legendas: Júnior Malacarne

Revisão: Sammis Reachers

Imagens: Internet


Olá galera! Vamos relembrar um pouco nossas memórias gamers da infância/adolescência? Ah, fazer isso é sempre tão bom, não é mesmo?! Mas para não entrarmos num loop infinito de nostalgia, vamos trazer também as memórias para o presente, tentar encaixar as peças e ver como estamos como jogadores hoje em dia.


Você deve lembrar que nos tempos áureos, nós fazíamos de tudo para jogar videogame, seja para conhecer um jogo novo (lançamento, ou aquele que sua turma já conhecia e só você ainda não, “ficando para trás”), seja para somar mais algumas horas com aquele clássico divertido que não podíamos ficar muito tempo sem jogar. O acesso a cartuchos de jogos não era tão fácil assim, e às vezes a “biblioteca” de games da “comunidade” do nosso bairro ou cidade ficava restrita a poucos títulos. Ainda assim, o senso de comunidade era forte em alguns contextos, e a prática de emprestar e pegar emprestado um game era muito comum. É claro que às vezes tínhamos que suar para convencer nosso coleguinha a emprestar o jogo. Se fosse original então, o tão almejado jogo se tornava uma preciosidade, quase uma pepita de ouro aos nossos olhos que brilhavam, sonhando um dia poder ter a chance de jogá-lo.



Fazíamos de tudo para jogar videogame na infância: percorríamos a cidade para conhecer um jogo novo ou convencer nosso colega a emprestar algum jogo


E aí que está o ponto onde queremos chegar: adquirir um jogo era algo muito valorizado, por não ser tão fácil assim. Bem, eu cresci no interior e jogos originais chegavam aos nossos olhos apenas através daquele camarada cujo pai ou tio morava nos Estados Unidos, Europa ou Japão, ou era de uma família abastada cujos pais sempre compravam um jogo novo para o filho quando iam na capital ou em outro estado. Você deve lembrar a ostentação que isso causava!


Restava-nos então a pirataria. Convenhamos que nossos olhinhos infantis demoraram um pouco para aprender e discernir o que era um cartucho pirata na maioria dos casos, e quando estávamos “vacinados” na questão, nossas mentes infantis nem sequer chegavam a refletir nas implicações da prática, que iam além da jogatina. É claro, o incômodo ficava por conta apenas daquele cartucho de Super Mario ou Donkey Kong que não salvava o progresso, aquela label apagada que soltava fácil e aquele material que levantava dúvidas quanto à sua durabilidade. Mas mesmo assim, com todas essas intempéries, o canal 3 estava sempre a todo vapor!



Não era tão fácil conseguir um cartucho original para jogar. E os piratas, um pouco mais acessíveis, muitas vezes nos frustravam.


Estou longe de hoje aqui defender a pirataria, mas conto a nossa história com respeito e nostalgia (pelo menos). O preço dos jogos originais os tornavam praticamente inacessíveis na maioria dos casos. Mas eu também já cheguei a fazer umas contas com fragmentos das minhas memórias de infância nas lojas de games junto com meus pais, e até mesmo os cartuchos piratas não eram lá tão baratos assim. Digo isso da perspectiva que tenho hoje, e já já eu chego nesse ponto para explicar melhor.


Mas antes cabe pavimentar um pouco mais esse caminho de memórias, trazer o título para o texto e chegar num ponto um pouco mais adiante, quando passamos dos cartuchos para os CDs (e posteriormente DVDs). A nova mídia que chegou com Playstation e Cia. não só trazia mais possibilidades para a gameplay devido ao seu maior espaço de armazenamento e tecnologia, mas também facilitava ainda mais as cópias não oficiais. Com isso acontecendo aos montes, capas lacradas de acrílico com encartes e CDs de fundo escuro deram lugar a cópias em CDs simples com capas pálidas impressas em modo econômico, acondicionadas no máximo em um envelopinho de plástico liso. E não precisávamos suplicar aos nossos pais uma visita a uma loja especializada (no meu caso, na cidade vizinha) ou esperar aquele tio do primo do amigo vir da capital e trazer um jogo que deveríamos percorrer quase a cidade inteira para tentar pegar emprestado ou jogar na casa de alguém: agora tínhamos a nossa “Banquinha de Jogos”, com os famosos “3 por 10”, montada no mercado municipal, naquele ponto minúsculo da rodoviária ou ao lado da sorveteria. Eu mesmo lembro de, na adolescência, ir de ônibus visitar um amigo na minha antiga cidade e, mesmo sem ser proprietário de um Playstation (ele o era), passar na banquinha e comprar uns jogos para levar na mochila e incrementar nossa jogatina (ficou de presente para ele, é claro). Bem mais tarde, já adulto, num curto espaço de tempo em que eu tive um Playstation 2 Slim (pirateado com um chip pirateado do pirata, que não possibilitava certas configurações necessárias - é amigos, convenhamos que a pirataria não era só flores!), eu andei frequentando novamente a banquinha da rodoviária para pegar alguns jogos. Às vezes eu voltava para trocar algum que não funcionava - a tia da banquinha era gente boa, mas não sei quem estava mais cansado de ver a cara do outro por conta de jogos que não funcionavam: eu ou ela (rs).



O surgimento das banquinhas de games piratas com as novas mídias foi uma mudança drástica no mercado de jogos


Bem pessoal, essa nostalgia é muito legal, mas muita água passou por debaixo da ponte na indústria de games de lá para cá, que foi moldando nossa maneira de jogar: evolução tecnológica, o boom dos jogos indie, internet e lojas de games online, etc. É verdade que a pirataria infelizmente ainda corre solta, mas precisamos entender que o mercado de games está, com folga, muito melhor do que na nossa infância/adolescência do século 20 e início do século 21. Temos jogos ainda muito caros, é verdade, mas se fizermos uma mínima correção monetária veremos que um jogo AAA dos anos 90 custaria bem mais caro hoje se o preço fosse convertido diretamente. 


Os meios digitais ainda facilitaram muito o nosso acesso aos games (ou pelo menos a nossa experiência de jogar) e posso dizer que se tornaram a nossa nova “Banquinha de 3 por 10”. E isso é verdade factual: quantas vezes na Steam eu peguei jogos bons na promoção por menos de 10 reais (ou pouco mais que isso) e quantas vezes literalmente somei uns 3 jogos no carrinho de compras por volta desse valor! E a Epic Games que nos presenteia semanalmente com jogos gratuitos, e muitas vezes jogos AAA não-lançamento (sim, na Steam você também consegue algo do tipo às vezes)?! E o Cloud Gaming (que está engatinhando com o XBox, por exemplo) em que podemos pagar uma mensalidade razoável para jogar um grande catálogo de jogos quando e como quisermos? Isso sem falar em vários jogos de boa qualidade gratuitos por natureza (é, não vamos entrar aqui no mérito da questão das microtransações e anúncios rs). Jogos de celular então? Ah, aqui já é mato: precisaríamos de outro artigo para falar sobre, dado o vasto mundo que isso se tornou.


Alguém pode levantar a alegação de que esses games de mídia digital são “licenças de uso de software” para o uso e não a propriedade dos jogos em si. Tudo bem, mas me diga aí: você ainda tem bem conservados com você aqueles CDs de jogos da banquinha que comprou a 25 anos atrás? E parabéns aos amigos colecionadores, mas o mercado de jogos antigos usados não está tão convidativo assim, tanto como era comprá-los novos nos anos 90 e 2000 (ou ainda pior) - mas sério: quem puder, continue colecionando.



As lojas digitais se tornaram a nossa nova “Banquinha de 3 por 10”, e sem pirataria!


E o fato que mais quero destacar neste artigo é que em nossa nova “Banquinha de 3 por 10” das lojas digitais com promoções ou presentes loucos de tirar o fôlego, encontramos sempre jogos originais! Nada de pirataria! A experiência do jogo não rodar é apenas nos casos de incompatibilidade de sistemas/hardware no PC (onde isso é sempre bem esclarecido) ou na falta de Internet para baixar ou fazer streaming do jogo. E isso sem falar na compatibilidade certa de jogos nas lojas digitais dos consoles. Risco de malwares escondidos no download: certamente não há, devido às implicações legais para a loja fornecedora. As implicações éticas e morais da pirataria também não estão presentes - e para essas implicações, reforço que estamos falando aqui de ética e lei, e não de narrativas construídas para o próprio prazer, ok? Uma cópia para uso pessoal de algo que você já adquiriu antes uma cópia oficial, ou uma cópia para uso pessoal de algo ao qual não existe nenhum meio atual de distribuição oficial de cópias oficiais (leia-se: de algo que não está no mercado atual de nenhuma forma, ou “abandonware”) certamente são diferentes de distribuição de cópias não oficiais e não autorizadas que ferem o direito autoral dos produtores daquele jogo (que ainda é distribuído atualmente em meios oficiais). Para refletir mais sobre o tema da pirataria, recomendo alguns vídeos do nosso colega redator Carlos Henrique Gomes no seu canal Videogames e Teologia:



É isso pessoal: agradeço a companhia de vocês na leitura desse artigo e espero que vocês tenham gostado dessa viagem que fizemos desde a nossa infância nos tempos não tão fáceis para conseguir jogar jogos originais, passando pela época das banquinhas de games e chegando às novas e abundantes oportunidades que temos de jogar videogame oficialmente hoje em dia. Espero de coração que vocês possam aproveitar bem as nossas novas “Banquinhas de 3 por 10” de hoje em dia, sem precisar recorrer à pirataria. Um grande abraço, e sigam conosco, porque aqui vamos sempre Muito Além dos Videogames!


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