O Caráter do Guerreiro

Autoria: Júnior Malacarne

Imagens: Internet


Quando voltei a assistir os Thundercats em 2023 cheguei a compartilhar nas minhas redes sociais sobre a qualidade geral da animação, e de como ela trazia uma boa dose de ação, aventura e humor e nunca deixando o seu trunfo que era trazer lições de virtudes para inspirar o amadurecimento do caráter da meninada que a assistia.


Os tempos mudaram e eu percebo que a maioria dos desenhos animados hoje não tem tanto mais esse foco, mas se dedicam mais a um certo humor (não que isso seria ruim, mas muitas vezes é algo completamente non sense, quando não sem graça nenhuma) com uma qualidade de arte questionável, ou uma abordagem mais psicológica e emocional, o que também não deixa de ser necessária, mas muitas vezes no extremo de ignorar ou relativizar demais a parte moral.


Bem, não quero parecer ser retrógrado, pois sei que também é possível encontrar boas produções nesse meio hoje em dia, por isso quero sem mais delongas partir para a intenção maior deste post, que é falar sobre o caráter do guerreiro.


Preparado de Fato para a Batalha



Dragon Ball Z Kai - uma história de grandes guerreiros


Certa vez, mais ou menos nessa mesma época, refletia também sobre o anime Dragon Ball Z Kai que eu estava começando a assistir. No início da história notei a iminente chegada à Terra de alienígenas humanóides maldosos e inescrupulosos chamados Saiyajins que tinham a intenção de exterminar a raça humana para "comercializar" nosso planeta. Enquanto isso os principais guerreiros treinariam bastante (incluindo o pequeno e ainda imaturo Gohan) enquanto mantinham a expectativa de trazer o mais forte guerreiro entre todos, Goku, de volta à vida, pois ele havia se sacrificado em um ato heróico para proteger seu filho e derrotar seu recém-descoberto irmão Saiyajin que chegou à Terra primeiro que os outros.


Mas então os vilões chegam. Demonstram sua vilania e poder em um prenúncio da tal batalha, derrotando e matando alguns desses guerreiros, e estava quase por exterminar os restantes já desfalecidos. E então Goku, que havia se preparado e treinado intensamente também nesse tempo em que "estava no céu", chega, no momento que inspirou esta reflexão.


Por um momento ele fica indignado, perplexo e sentido por ver parte de seus amigos mortos por esses seres inescrupulosos, mas numa atitude tranquila esquiva de um ataque inimigo indo direto em direção ao seu filho e amigo que ainda estavam vivos e desfalecentes. Ele demonstrou muito autocontrole e, não obstante a tensão do momento, focou nos seus amigos, acudindo-os com suprimentos para recobrarem as forças. Continuou demonstrando autocontrole em face aos insultos dos inimigos, que nessa hora já estavam temerosos e espantados com essa tranquilidade somada à sua força e poder descomunal. Enquanto um dos sayiajins, que mais parecia um brutamonte, vociferava afrontas, ele reagia tranquilamente, como quem estava bem seguro de si. E depois, na hora de lutar pra valer, ainda se deslocou para outro lugar em que não houvesse pessoas ou animais para pôr em risco, mostrando responsabilidade.


O Verdadeiro Pulo do Gato



Thundercats e seu estilo de animação com “moral da história”. O que faz um verdadeiro guerreiro?


Em um dos episódios de Thundercats que assisti, Lion-O, o chefe do grupo, seguia numa jornada por certas montanhas geladas para recuperar um meteoro caído que trazia uma fonte de energia que seria importante para eles. Nessas terras encontrou um guerreiro nativo que garantiu que o que havia em suas terras seria de propriedade do seu povo. Lion-O explicou sua necessidade e tentou entrar em acordo amigavelmente, mas sendo rejeitado teve de enfrentar uma batalha onde o guerreiro das neves disse ironicamente que sua amizade e confiança seriam conquistadas em um embate.


Lion-O dominou a batalha controlando o grande felino que seu oponente montava, por ser um "gato" como ele. Mas num desatino do animal, seu adversário caiu em um abismo escuro. E aí então veio a atitude nobre de Lion: surpreendendo até mesmo seu hilário e medroso escudeiro Snarf, ele desce o abismo por uma corda amarrada à sua espada para salvar seu oponente, o qual não tinha intenção de matar. Nesse momento são surpreendidos por outros inimigos que avançavam pelo céu tentando explorar essa que parecia uma vulnerabilidade: Lion-O estava "ocupado" com suas forças e recursos voltados para salvar um desconhecido e sua poderosa espada estava exposta. Mas, apesar dos infortúnios, os Thundercats saem vitoriosos, em acordo amigável com os nativos, e com os verdadeiros inimigos batendo em retirada.


No outro episódio, os Thundercats enfrentavam ataques de inimigos que estavam inesperadamente armados com novas tecnologias, e nesse embate seu veículo de combate foi parar no fundo da água (não me lembro agora se do mar ou de um simples lago). Os inimigos estavam equipados para lutar debaixo da água e dois guerreiros felinos se viam pressionados de um lado pelos adversários enquanto viam seu veículo preso em rochas subaquáticas. E nesse momento ainda são perturbados e atrapalhados por cavalos marinhos, até que percebem que o motivo disso era que um de seus filhotes estava preso debaixo do seu tanque de combate. Então no meio de toda essa turbulência eles colocam todas as suas energias em salvar o pequeno cavalo marinho e o que acontece no final? Depois de muitos apuros seus inimigos acabam derrotados e eles, vitoriosos mais uma vez, recuperando a segurança de antes.


O Bom Guerreiro


Tais desenhos tem muitos episódios com variadas aventuras. Os guerreiros se preparam para enfrentar o esperado mas acabam enfrentando o inesperado também. Com isso a grande história se desenrola por muitos capítulos de histórias menores. Os desafios previstos e também os imprevistos põe à prova não somente seu treinamento de força ou habilidades de luta, mas também seu caráter. E essas cenas nos trazem lições de como o caráter é essencial na vida, e pode amadurecer em meio às adversidades.


Os guerreiros aqui citados mostraram virtudes e bondade em momentos de tensão. Seus caracteres também foram amadurecidos e treinados ao longo da história. Ao longo da nossa história também seremos desafiados, não só em nossas habilidades físicas e emocionais, mas também espirituais, também em nosso caráter.



No Getsêmani e na Cruz conhecemos um verdadeiro guerreiro de caráter


O mestre Jesus enfrentou pelo menos dois momentos de grande tensão, de onde nos deixa exemplos e lições importantes para o nosso tema também. Deus Pai o "deixou" por um tempo antes de sua morte para que ele sentisse o peso da culpa pelos pecados da humanidade pelos quais iria pagar, mesmo sem ter cometido pecado algum, pois o pecado faz separação entre o homem e Deus e traz a morte (Isaías 59:2, Romanos 3:23; 6:23). 


Com isso, primeiramente no Jardim do Getsêmani (Mateus 26: 36-56) ele orou ao Pai com tamanha angústia por saber que estava prestes a morrer na cruz para pagar esse alto preço que chegou a suar gotas de sangue (Lucas 22:44) e dizer que sua alma estava profundamente triste até a morte (Mateus 26:38). Seus discípulos companheiros dormiam no lugar de apoiá-lo, mas ele foi paciente com eles. O seu discípulo traidor o entregou com um beijo aos soldados, que o prenderam, e um dos soldados ainda foi atacado subitamente pela espada de um de seus discípulos companheiros. Jesus foi paciente com todos, não revidou, não insultou ou afrontou o traidor e ainda curou o soldado ferido e instruiu os seus discípulos. E na cruz, o momento mais tenso, diante das afrontas que sofria (Mateus 27: 39, 41, 44), ainda pediu ao Pai que perdoasse seus ofensores pois não sabiam o que faziam (Lucas 23:34).


Jesus mostrou o seu caráter sendo fiel à sua missão, ao seu chamado, aos valores do Reino de Deus. Ele estava bem seguro de si. Se abriu com sinceridade em sua humanidade orando ao Pai e manteve autocontrole com os seus relacionamentos diante das tensões.


Jesus estava em dias muito ruins, como costumamos dizer. Mas ele não praticou o mal e nem deixou de fazer o bem. Ele foi um verdadeiro guerreiro. A lição é que não precisamos estar bem para fazer o bem. E não precisa estar tudo bem para fazermos o bem. É claro que aqui não está sendo exigido alta produtividade em momentos de aflição ou fazer o que não está às mãos em determinadas circunstâncias (Eclesiastes 9:10), mas pelo menos não precisamos fazer o mal ou perder o controle quando estamos num dia mau. Podemos nos abrir sinceramente para Deus, buscar seu conforto, e responder fielmente ao seu chamado. Podemos manter o autocontrole, a responsabilidade, a fé, a virtude e o caráter, independente das circunstâncias. No dia mau, em meio às adversidades, é que se manifesta e se desenvolve o verdadeiro caráter do guerreiro.


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